segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Parados no tempo


O Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking mundial dos países com mais crimes praticados contra as mulheres, não apenas crimes sexuais, mas também os mais sutis, como assédio, discriminação, desvalorização do trabalho, violência psicológica, doméstica…
Como explicar isso em uma sociedade democrática, livre e que sua lei iguala homens e mulheres como sendo dignos e merecedores das mesmas oportunidades e tratamentos?
Retrocedendo no tempo, há 28 anos, vivíamos em um período de regime militar, onde o autoritarismo imperava sobre tudo e todos, inclusive sobre as mulheres, que foram torturadas, estupradas e mortas por homens que se sentiam acima da lei e que achavam que elas eram objetos para satisfação e prazer, mesmo que isso infringisse o direito à escolha delas.
A violência contra a mulher tem forte influência do autoritarismo, não apenas do regime militar, mas do autoritarismo como fato histórico, que se tornou conhecido a partir do século XX. Ele é caracterizado pelo uso do abuso do poder e da autoridade, e na vida familiar pela dominação de uma pessoa sobre outra.
Ao pensar em autoritarismo, logo penso em machismo e vice-versa. Os homens têm grande apelo a desenvolverem o lado autoritário, pois desde sempre foram conhecidos por sua força física e brutalidade. Já as mulheres são o sexo frágil, com toda a sua sensibilidade e delicadeza não devem opinar em assuntos masculinos. Mas por quê? Esse preconceito que sempre existiu, e temo que sempre exista, faz com que os homens desvalorizem o trabalho das mulheres, discriminem-nas se acaso não forem adequadas ao padrão de vida feminino do século XIX, onde o lugar delas era em casa cuidando do marido e dos filhos, sem poder ter direito à educação e à cidadania. Faz com que machistas enraizados ‘’ensinem’’ suas mulheres através de violência física ou psicológica qual é a posição delas dentro de casa, que segundo eles é a de servir e apenas servir a eles. Além de que todo esse preconceito gera o aumento de crimes sexuais, já que se uma mulher usa um decote ou uma saia justa, algo crescente a partir da segunda metade do século XX, ela está buscando chamar a atenção e então merece ser assediada ou até mesmo estuprada. Isso é o que a sociedade machista-autoritarista prega.
Não, lugar de mulher não é no tanque, nem dentro de casa atrás do fogão e da vassoura, muito menos em cima de uma cama servindo de objeto sexual para seu parceiro. Lugar de mulher é onde ela quiser. Na escola, na biblioteca, na universidade, na academia, atrás do volante de um caminhão ou em uma plataforma petrolífera. Lugar de mulher é em cima de um salto alto (para aquelas que gostam), com uma roupa que valorize seu corpo e a faça sentir-se bem consigo mesma, buscando agradar apenas a ela mesma e não pensando que pode ser alvo de assédio ou desrespeito devido ao machismo do homem brasileiro.
Avançamos no tempo, mas parece que a concepção dos homens em relação às mulheres não. De 1980 a 2010, foram assassinadas no país cerca de 91 mil mulheres, 43,5 mil só entre 2000 e 2010. O número de mortes nesses 30 anos passou de 1.353 para 4.297, o que representa um aumento de 217,6% nos índices de assassinatos de mulheres. Essa pesquisa foi feita pelo Instituto Sangari. A pesquisa também revelou que foram registradas mais de 48 mil ocorrências de agressões contra mulheres no Brasil em 2011. Em 68,8% dos casos, a mulher sofreu a agressão dentro da própria residência.
Temos no país a Lei Maria da Penha, que aumenta o rigor das punições das agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico ou familiar. Mas infelizmente parece que não tem dado certo. Apesar de as mulheres serem incentivadas e começarem a denunciar a violência, a punição contra o agressor não é eficaz, o que gera medo e receio de denunciar, já que são grandes as chances de não ser feito nada.
O que fazer para mudar esse quadro? Eu acredito que enquanto a sociedade tiver em seu DNA genes autoritaristas, a violência vai continuar crescente, e não só contra mulheres, mas contra qualquer um que for contra a opinião e concepção de mundo de um autoritário. Assim como os militares em seu período autoritarista decretavam tudo o que acontecia no país e puniam quem ousasse ir contra as suas opiniões, ainda existem pessoas com o mesmo nível autoritário em um país democrático.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Entrevista - Jorge Eduardo França Mosquera


Jorge Eduardo França Mosquera se formou em jornalismo pela UFPR e em direito pela UniBrasil. Possui pós graduação, em nível de especialização, em sociologia política também pela UFPR. O profissional passou por todas as redações de Curitiba, mais rádio e TV. Com uma carreira extensa, ampla e muito boa, hoje o jornalista está em um projeto novo no qual faz jornalismo online sem patrão, o A Gralha. "A Gralha" é o primeiro jornal paranaense desenvolvido exclusivamente para a internet. Os responsáveis pelo jornal são:  Ana Cecília Pontes de Souza, Julio Tarnowski Junior, Leandro Taques e Jorge Eduardo França Mosquera. No qual, Jorge Eduardo França Mosquera concedeu a entrevista de hoje para falar um pouco sobre jornalismo online e seus desafios. 

Juventude Apurada: A ideia do site em si, é de fazer um jornalismo sem patrão. Vocês são: Ana Cecília Pontes de Souza, Julio Tarnowski Junior, Leandro Taques e o senhor. De quem exatamente partiu a ideia de fazer um tipo de jornalismo livre? Por quê?


Jorge Eduardo França Mosquera: Como os demais, tenho por berço o jornal impresso. E é sonho de todo jornalista ter um dia o seu jornal, não? Pois a internet nos dá essa oportunidade, e o custo é bem menor. Não gastamos com gráfica, distribuição, comissão do jornaleiro, etc. E é muito bom ser patrão de si mesmo.Fazemos um jornalismo livre, sim, mas coberto de responsabilidades. Se formos processados, estaremos quebrados. 

Juventude Apurada: Quais as vantagens e desvantagens de se fazer um trabalho diferenciado como esse?

Jorge Eduardo França Mosquera: Como A Gralha não é um portal de notícias em tempo real, mas um jornal eletrônico, não temos pressa em fazer as atualizações.A maior desvantagem, creio, é sermos de um veículo ainda pouco conhecido. Com o tempo vamos superando.De resto, não é um trabalho tão diferenciado assim. Apuramos as notícias, redigimos e editamos como um jornal convencional.

Juventude Apurada: Quais as maiores dificuldades para o senhor, em especial nesse grupo, que tem encontrado até agora?

Jorge Eduardo França Mosquera: Falta de dinheiro, proveniente dos anúncios que ainda não temos, para podermos contratar uma boa equipe de reportagem.

Juventude Apurada: Se vocês são sem patrão, quem paga o salário de vocês? Como vocês recebem?

Jorge Eduardo França Mosquera: Ninguém tem salário. E como ainda estamos sem anúncios (o jornal tem apenas sete meses de vida), nada recebemos. Talvez por isso alguns sócios estejam meio afastados. Com o tempo vamos superar essa dificuldade.

Juventude Apurada: E funcionários? Vocês têm? Há mais pessoas trabalhando com vocês e auxiliando?

Jorge Eduardo França Mosquera: Não. Só temos colaboradores voluntários. Valério Fabris, diretor-presidente da Rádio Inconfidência de Belo Horizonte; Dirceu Pio, consultor de comunicação em São Paulo; Rodrigo Morosini, crítico de cinema, aqui de Curitiba, que também produz matérias de automobilismo; Gustavo Kipper, publicitário que escreve sobre MMA; Emerson Cervi, professor de ciência política da UFPR; Aroldo Murá, professor e jornalista; Zé Beto, o blogueiro mais famoso da cidade; Maringas Maciel, fotógrafo. E outros poucos, mas todos muito bons.

Juventude ApuradaQuais as formas de apuração utilizadas para o site? Quais as táticas de confiabilidade que você, como jornalista, utiliza? 

Jorge Eduardo França Mosquera: As mesmas que se usa em qualquer veículo. A única diferença, e isso é importante, é que, por sermos um jornal eletrônico, eventuais mancadas podem ser corrigidas instantaneamente, logo que percebidas. Temos erratas em tempo real.

Juventude Apurada: Vocês trabalham com um conteúdo divulgado apenas na internet. E na hora da apuração, teriam matérias publicadas em que foi usada apenas a internet para apurar as informações?

Jorge Eduardo França Mosquera: Muitas. Um de nossos papeis é integrar sites e blogs confiáveis, todos de tom marcadamente progressista. Obviamente, citamos a fonte.

Juventude Apurada: Os jornalistas estão cada vez mais dependentes das fontes, já que, testemunham menos os fatos e estão menos presentes nos casos ocorridos devido a ficarem mais na redação. Como lidar com fontes que muitas vezes tem seus interesses próprios e por isso está passando a informação? 

Jorge Eduardo França Mosquera: Recusamos, sempre educadamente, fontes que defendem interesses que não seja o interesse público.

Juventude Apurada: A internet, principalmente hoje, gira em torno da rapidez e agilidade. Já teve que publicar algo que não tinha muita certeza para não perder a informação ali no momento?
 
Jorge Eduardo França Mosquera: Nunca. Não temos pressa. Mas já furamos portais de peso algumas vezes.

Juventude Apurada: Por que a decisão de publicar os conteúdos na internet? E não, por exemplo, no impresso? O senhor acredita no fim do impresso?  Que ele possa não ter mais espaço daqui algum tempo?

Jorge Eduardo França Mosquera: O impresso não acabou. Para nós, a internet é quase de graça. Quando A Gralha se viabilizar financeiramente, terá uma edição de final de semana, com noticiário consolidado e muitas matérias mais aprofundadas.

Juventude Apurada: E para finalizar, que conselhos o senhor daria para jovens jornalistas hoje que estão iniciando? E para jornalistas que queiram seguir a carreira em um jornalismo autônomo e sem patrão? 

Jorge Eduardo França Mosquera: Não deixar de ler nunca, até bula de remédio. Procurar entender um pouco de direito constitucional e uma ou duas línguas estrangeiras. Estar atento o tempo todo. Alimentar as fontes e não ter amigos. Nessa atividade é muito perigoso. E não ter vergonha de visitar possíveis clientes, já que vai ser patrão, dono do empreendimento.

Acredite, estou mentindo - Ryan Holiday


‘’Acredite, estou mentindo’’, como a própria chamada da capa diz, é um livro “espantoso e perturbador“.
Ryan Holiday é um manipulador das mídias sem pudor algum. Existem momentos em que o autor nos leva a pensar que é um psicopata e outras que elevam o nosso conceito sobre ele e pensamos “nossa, como ele é demais”. Ele consegue impactar, e nos leva a entender como as coisas realmente funcionam nesse meio, sendo ético ou não.
A mídia hoje é alimentada de informações bombásticas e que chegam o mais breve possível. Rapidez. Esse é o grande item da vez. O mundo jornalístico vive dessa velocidade, e a cada dia buscam notícias factuais, rumores e etc. O jornalismo online nada mais quer além de visualizações de páginas e compartilhamentos nas redes sociais, é isso que importa no momento. O que ninguém nem imagina ou presta atenção no dia a dia, é que isso é um sistema vulnerável e manipulado, e o Sr. Holiday se tornou mestre nesse quesito de manipular a mídia para conseguir divulgar o que quer e enganar. Ele é maquiavélico, eu diria. Porém, nesse livro ele trás os segredos e ensina como a mídia funciona na íntegra, mostrando e contando o que fez durante a sua carreira da forma mais honesta possível.

Nos primeiros três capítulos ele trás uma introdução mostrando aos poucos, entrando de leve nos assuntos, começando com os blogs. A partir do 4º capítulo ele ensina como utilizar táticas que, para ele, são eficientes nesse meio virtual. No total, são nove táticas. “Dar um golpe nos maiores golpistas”, como diz o próprio autor ao explicar o porquê e para quê funcionam as mídias. É possível manipular os sites utilizando apenas essas táticas, se aproveitando de sua vulnerabilidade e controlando o fluxo de informação na internet.

Cap. 4 – 1ª tática: Blogueiros são pobres, ajude-os a pagar suas contas.
O que mais se busca ao contratar blogueiros, é a sua rapidez ao publicar o conteúdo na web. A informação gira em torno da rapidez. Os leitores esperam o conteúdo completo, mas na horar. A forma de pagamento dos blogueiros reflete na qualidade, velocidade e precisão do conteúdo informativo. No começo, os pagamentos dos redatores eram feitos de acordo com os artigos publicados, ou seja, quanto mais artigos, mais esse jornalista iria ter de “salário”. Gawker, por sua vez, estabeleceu uma nova forma de pagamento para os blogueiros, a indústria abandonou o velho padrão de pagamento por artigo, para um sistema de pagamento por visualização de página, que dava um bônus aos redatores baseados no tráfego mensal que geravam. Esse bônus era um adicional em cima do seu salário fixo mensal – estilo uma comissão – ou seja, quanto mais visualizações os jornalistas tinham com suas matérias publicadas, maiores eram os seus salários. Eles podiam duplicar, triplicar o salário, e assim por diante. Hoje o sistema de bonificação ainda continua, mas não na mesma proporção dessa época quando surgiu. A média hoje é de que um redator precisa de 100 mil visualizações para conseguir 58 dólares. Porém, essa tarefa trouxe muitas dificuldades ao mundo dos blogueiros, que têm de ir em busca de muitas visualizações para uma boa remuneração. Alguns sites como o Google e o Youtube, por exemplo, só pagam em cima de visualizações, não existe remuneração fixa.

- Prontos para exploração: O que tudo isso significa, segundo o autor, é que se os blogueiros desejam ficar ricos, ou ao menos pagar as suas contas mais básicas, eles precisam ir em busca - de muitas visualizações. E é nesse contexto que entra a participação maquiavélica do nosso querido manipulador de mídias – Ryan Holiday – na parte de distribuir produtos grátis para esses blogueiros. Por exemplo, a distribuição de roupas para blogs de moda que publicam fotos de roupas de tal marca todos os dias. E qual a intenção? Divulgar a marca, e depois oferecer um contrato, de modo que os blogueiros recebam uma comissão toda vez que alguém comprar algo após visualizar as fotos no blog, ou seja, lucro.
Blogueiros querem dinheiro, e na maioria das vezes não se preocupam se os escândalos sobre os quais escrevem são verdadeiros ou não. O autor descreve que já perdeu as contas de quantas grandes histórias já contou para blogueiros, todas elas favoráveis a ele, mas que não eram verdade, porém através delas esses blogueiros ascenderam na carreira de jornalista, conseguindo trabalhos em revistas, jornais, TV e etc.

Cap. 5 – 2ª tática: Diga-lhes aquilo o que querem ouvir.
Os jornalistas dependem de suas fontes, e essas fontes têm seus interesses próprios.  Eles raramente testemunharam algum fato sobre o qual estão escrevendo, precisam dessas fontes. Nessa realidade, tudo é pintado por essas fontes que querem se auto beneficiar com “informações”. O wikipédia é muito utilizado como fonte de pesquisa, até por jornalistas. Porém, é um ato muito perigoso e nada confiável, pois o conteúdo do site pode ser modificado por qualquer pessoa, e assim também manipulado. Algo que o nosso manipulador de mídia não deixou de fazer para conseguir seus interesses, claro, manipulando o site, colocando as informações de seu interesse, e dessa forma divulgando um produto ou alguém. O jornalista que irá pesquisar no wikipédia e reproduzir essa informação em seus blogs, fará com que a informação seja visualizada por mais e mais pessoas, e a mentira será confiada pelas pessoas como algo verdadeiro. Aliás, uma das coisas também defendidas pelo autor na divulgação de seu produto: a mentira.

Cap. 6 – 3ª tática: Dê-lhes o que se espalha, não o que é bom.
 A mídia é manipuladora, e pode de maneira negativa induzi-lo a reproduzir e compartilhar o material que ela produz. Por exemplo, há estudos de sujeitos que assistiram vídeos negativos (guerra, acidente de avião, execução, desastre natural) e que ficaram mais agitados e conseguiram se lembrar melhor do que aconteceu, prestar mais atenção e empregar mais recursos cognitivos para consumir a mensagem do que quando o material não negativo. “Esse é o tipo de coisa que faz você compartilhar. Eles mexem com seus botões para vocês clicarem nos deles.” O autor não dispensa de maneira alguma de táticas fraudulentas para vender seus produtos, o que importa é vender. “Cada uma delas’’, as táticas, ‘’expõe uma vulnerabilidade patética do nosso sistema de mídia e, quando manejadas adequadamente, fornecem meios para controlar o fluxo de informações na internet” – Ryan Holiday.
Alunas: Suelen, Mariane, Débora Maria e Luíza Giovana.